Minhas Produções

Cama de alvenaria e janela para a rua

 

Que sensação mais agradável era fica de joelhos na minha cama de alvenaria e apreciar pela janela os movimentos dos transeuntes pela rua que se apresentava à minha frente. Naquela época, nada me incomodava, não havia ainda a sensação de responsabilidade que pesa nas costa dos adultos, afinal de contas, eu era apenas uma menina. Uma menina cheia de sonhos, de expectativas, à procura de eventos que me levassem a mundos maravilhosos.

Como era fascinante observar o mundo lá fora daquela janela que mais parecia meu reduto de encantamento. Acordar pela manhã e visualizar os raios solares em volta das pessoas que ali passavam diariamente era como se minha vida fosse se apresentando como a aurora da vida. Isso mesmo, a aurora da minha vida!

Eu era uma menina apreciadora das coisas simples da vida. Aquilo para mim era simplesmente o momento ápice do início de um dia que nada tinha de especial a não ser esse momento presenciado da janela do meu quarto, afinal, eu fui criada como a rosa do pequeno príncipe, dentro de um reduto muito bem cuidado pela pessoa que mais se preocupava comigo, meu pai, além é claro, do apoio cuidadoso da minha mãe para com os cuidados de meu pai.

Viver naquela casa no litoral era para mim a maior de todas as conquistas realizadas naquela época, pois somente lá eu podia, nos finais de semana, presenciar e vivenciar momentos de muito prazer diante da natureza que se apresentava com toda a sua generosidade matinal.

Somente lá é que eu tinha a oportunidade de escorregar no escorrego natural das rochas que ali existiam. Embora tivéssemos uma escada rochosa, também criada pela natureza, para descermos até à praia. No entanto, escolher as escadas era abrir mão da adrenalina de descer pelo escorrego da vida lúdica e emocionante.

Que saudades daquela época em que era possível viver sem se preocupar com o amanhã. Da época que a única desvantagem de ser criança era não ter a perspicácia para entender que esses momentos devem ser vividos intensamente, pois eles não voltam mais. Que somente nessa fase da vida a gente pode escolher ser feliz.

Ficar naquele quarto, em cima daquela cama resistente e contemplar, por meio daquela janela encantadora, o amanhecer e o viver simples das pessoas que ali cruzavam a minha vida não tinha preço.

Naquela janela eu podia sonhar, respirar o ar puro (sim, puro, pois a ganância humana ainda não havia poluído a vida), perceber que eram essas ações que eu me deparava com a vida real no formato de ficção, de encantamento, de realização de vida plena.

Hoje, simplesmente me bate aquela nostalgia, aquela saudade exorbitante de reviver esses momentos, pois com eles eu teria a chance de, pelo menos por alguns instantes, me adentrar no mundo do encantamento, da fantasia, e perceber o quanto maravilhoso é ser criança.

Quem me dera poder ter aquela janela de novo, janela que me possibilitou enxergar um mundo com o qual eu sequer sonhava que existia.

Quem me dera voltar a possuir aquela cama que, por ser de alvenaria, então resistente, me garantiu o direito de perceber que a vida, embora precisasse ser vivida com dureza, ela apresentava características de sensibilidade, de emoção, de inocência e, ao mesmo tempo, de amadurecimento.

Um dia, quem sabe, poderei reviver esses momentos de encantamento, mas sei que se assim for, não serão mais os mesmos momentos e não terei mais a inocência de outrora, muito menos a capacidade de guardar na memória a experiência de vida realmente vivida.

Liédja Lira,
Natal, 19 de março de 2015.
 




PODERGANANCIALIDADE

Que sociedade é essa?

Paira pelo ar cheiro de ganância
E evidência de ânsia pelo poder.

Tudo para manter status!

Que sociedade é essa?
Que tem fome de poder ,
Desejo de estar à frente de tudo e de todos,
Ânsia de estar acima de qualquer outro
Tudo em busca de posição e prazer de ambição.

Não sei até onde vai ser possível
Essa sociedade medíocre
Achar que está acima do bem e do mal
Que para conseguir manter certo "status"
Pensa que é um ser superior e maioral.

E agora, educação?
O sonho acabou,
A inteligência dissipou,
O conhecimento sumiu,
O ser humano murchou,
E agora, educação?

Não, não acredito nessa incompetência.
A educação é grandiosa,
o sonho não morre, não acaba
A inteligência é autossuficiente,
O ser humano é autônomo e persistente,
A sociedade é passível de mudanças.

Acredito na vida,
Acredito no amor,
Acredito que o mundo
Ainda agirá a seu favor,
Pois aqueles que sonham
Continuam a lutar
Por uma humanidade sem dor.
 
                                                 Liédja Lira.



Nostalgia literária


Saudades de quando era adolescente

Quando no silêncio de meu quarto sonhava
Viajar em mundos misteriosos e desconhecidos
E sensações maravilhosas eu passava.


Nos delírios literários que eu sentia
Em lugares distantes eu reinava
Imaginando-me nas mulheres de Alencar
Na doce literatura me deliciava.


Que momentos inimagináveis e marcantes,
Que sensações puramente deslumbrantes,
A mais sublime inocência se implantava,
Permeando meus sonhos brilhantes.


Ora me via a imitar Lucíola.
Aurélia muitas vezes eu era.
Brincava sempre de ser Emília.
Carolina? Ah, queria ser ela! 


Minha mãe sempre se preocupava,
Meu pai, muitas vezes, estranhava,
Não entendiam exatamente o porquê
No quarto, com os livros, eu me trancava.


Assim, fui vivendo literarte,
Criando, imaginando e fazendo arte,
Sonhando de ser aquela moça delicada,
À espera de um amor de verdade.


Continuo vivendo romance,
Com aquele que seria o amor de verdade,
Hoje ainda vivo sim de arte,
Mas arte de amor por amar-te.

                                             Liédja Lira

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